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Desperdício de alimentos: uma verdade indigesta

O Brasil enfrenta uma enorme crise de insegurança alimentar e muita gente se viu forçada a mudar seus hábitos por questões econômicas. A pandemia piorou muito este quadro, por conta do cenário econômico, e é triste pensar que tanta gente não sabe se vai conseguir garantir uma única refeição ao longo do dia.

São 19 milhões de brasileiros lidando com a fome atualmente. Ao mesmo tempo, estamos jogando muita comida fora. O Índice de Desperdício de Alimentos 2021 da Organização das Nações Unidas (ONU), publicado no último mês de março, indica que em 2019 foram desperdiçados cerca de 931 milhões de toneladas de alimentos, o que corresponde a 17% do que estava disponível para consumo. 

É claro que não somos os únicos culpados, esse índice também inclui restaurantes, comércio varejista e outros serviços alimentares.

Mas o que cada um faz individualmente na sua casinha também conta – e muito. E eu imagino que muita gente nem se dá conta do impacto que suas escolhas individuais têm no todo. 

É compreensível: não existe uma conscientização muito grande a respeito do tema, e eu me considero privilegiada por ter algum conhecimento nesse campo.

Sendo assim, é muito (mas muito) difícil eu jogar comida fora. Além de ter crescido em uma casa em que minha mãe reaproveitava absolutamente tudo – ou seja, aprendi olhando! -, ela também sempre foi muito boa em planejar o que comprar / cozinhar, mesmo trabalhando fora. 

Por isso, reuni algumas coisinhas aqui que acho que valem a pena serem disseminadas ou relembradas. Coisas que já escrevi aqui no site e que aprendi nos meus anos de marmiteira profissional. Bora?

Venceu: já era?

Esses dias, eu li uma matéria bem interessante no site da Vox sobre o mito da validade dos alimentos. Basicamente o texto fala que a indústria nos fez acreditar, ao longo dos anos, que morreríamos se comêssemos qualquer alimento industrializado a partir do vencimento determinado pela embalagem.

Mas o que os especialistas explicam é que essa data tem mais a ver com a “excelência” do produto para consumo (características como textura e sabor) do que com alguma possibilidade de nos fazer verdadeiramente mal.

Não estou aqui para falar pra você passar a comer alimentos vencidos a rodo, mas sim, para compartilhar algumas coisas que funcionam para mim e que me ajudam a nem deixar o alimento atingir sua data de validade. Bora?

1. Planejamento

Pra mim, planejamento é a melhor forma de evitar o desperdício. Começa com a programação do que vai comprar no mercado (não ir com fome também ajuda!); depois, do que você vai cozinhar ao longo da semana.

Depois de um certo tempo de cozinha, a gente aprende a meio que ter uma imagem mental do que vai cozinhar ao longo da semana. Quem está à frente do fogão sabe o que estraga mais rápido, o que sobrou da semana passada e precisa ser consumido; e qual sobra pode ganhar uma repaginada e virar um almocinho delícia.

Mas às vezes, fazer um cardápio escrito mesmo pode ser bem útil. Quando estou inspirada, faço isso no domingo à noite – acaba sendo um momento relaxante também (especialmente para alguém como eu, que adora pensar em comida!).

Neste texto aqui falo um pouco mais sobre organização na cozinha. 

2. Meça essas quantidades, parça

Eu sempre falo que eu não tenho muita paciência para seguir receitas – de fato, não tenho. Mas para calcular a quantidade, e evitar fazer o dobro de comida do que o que seria necessário, acho super válido usar algumas ferramentas. 

Para massas, por exemplo, eu uso uma balancinha de cozinha. Atrás da embalagem, no rótulo, geralmente tem a quantidade em gramas por pessoa, assim você pode calcular a porção individual. Parece complexo, mas garanto que não é – e olha que eu sou de Humanas!

Para grãos, uso medidor de cozinha comum (que pode ser em xícaras também). E quando tenho alguma dúvida, recorro ao bom e velho Google. 

3. Marmite-se

Nem preciso falar que tudo que sobra vira MARMITA aqui em casa né? Daí ou vai pra barriga no dia seguinte, ou vai para o freezer

4. Sazonal e local: mió impossível

Valorize os legumes, frutas e verduras da época. Se conseguir comprar de um produtor local, nossa, melhor ainda! Assim, você vai provavelmente consumir algo mais fresco, com menos agrotóxicos e geralmente mais barato.

De quebra, evita o desperdício e ajuda a amenizar os impactos ao meio ambiente. 

Na dúvida? O Ceagesp tem uma tabela de sazonalidade bem visual e prático. Clique aqui para acessar. Desconfie também quando o preço estiver muito alto, geralmente os alimentos fora de época têm um custo de produção maior e isso reflete no valor final.

5. Aproveitamento integral dos alimentos 

Outra coisa interessante de explorar é o uso de cascas, folhas e talos em diversas preparações. Eu tive a felicidade de trabalhar por um tempo em parceria com a Associação Prato Cheio e aprendi muita coisa por lá! Deixo como dica a página de receitas do site deles, que tem várias dicas apetitosas.

6. Feios por fora, mas por dentro…♥ 

Também recomendo o desapego aos padrões de beleza dos alimentos. Se comprou algo e está fora do padrão, amassado, ou feio, corta, prepara, tempera e já era. Aqui vale a mesma regra que usamos para seres humanos – o que importa é a essência! 

Neste texto falo um pouco sobre o projeto Fruta Imperfeita, que trabalha em favor dos feínhos! 

7. Agora, relembrando algumas receitinhas do ♥ 

Também deixo aqui algumas receitas do meu próprio site que podem servir como inspiração para você começar a se aventurar nesses aprendizados e, assim, economizar e descobrir novos sabores. Espero que você se inspire. 🙂 

Sobras de arroz rendem pães fofinhos; veja receita
Faça um delicioso molho de tomate com casca de berinjela
Casca de abacaxi não é lixo! Aprenda a fazer um delicioso chá
Sobrou um montão de arroz? Faça um bolo de fubá fofinho e sem farinha!
Folha de rabanete: não despreze o que a natureza te deu com tanto amor
Aproveite os talos dos aspargos em uma deliciosa sopa
Até o talo: aprenda a fazer caldo saudável com cascas
Comemore o Dia Mundial da Alimentação com um bolo de laranja com casca
Folhas da couve-flor são lindas e saborosas; aproveite-as!


REFERÊNCIAS

VIGISAN Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil
http://olheparaafome.com.br/VIGISAN_Inseguranca_alimentar.pdf 

Working Paper 4: Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil
https://www.lai.fu-berlin.de/en/forschung/food-for-justice/publications/Publikationsliste_Working-Paper-Series/Working-Paper-4/index.html 

Índice de Desperdício de Alimentos 2021
https://www.unep.org/pt-br/resources/relatorios/indice-de-desperdicio-de-alimentos-2021

The lie of “expired” food and the disastrous truth of America’s food waste problem
https://www.vox.com/22559293/food-waste-expiration-label-best-before


Foto principal: Dainis Graveris | Unsplash


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