Author: danibarg

Zezé Motta | Foto: Nelson Di Rago/Globo

Em tempos de redes sociais e padronização, representatividade é ouro 

“Enquanto algum negro ou alguma mulher tiver sendo humilhada pelo fato de ser negro e de ser mulher eu vou me sentir humilhada.” É assim que Zezé Motta define sua sensação sendo uma figura de destaque tão importante na TV e cinema brasileiros. A fala é apenas uma entre tantas impactantes reunidas no documentário Tributo, disponível no Globoplay.  Representatividade é um tema que eu exploro muito no meu livro, o Além do Like. De tal forma que assistir esse documentário foi como um sopro de esperança sobre essa questão. Zezé é a prova viva de que a representatividade é um dos caminhos mais eficazes para uma sociedade mais diversa e menos excludente.  Cadê todo mundo? Se sentir pertencente é uma necessidade humana, e por muito tempo as mulheres negras não se viam representadas na TV em papéis de destaque. Felizmente, esse cenário está mudando, ainda em passos lentos, e é uma alegria ver o tanto de portas que Zezé abriu. Nas entrevistas, ela conta que ao começar a fazer sucesso na TV, percebeu o quanto …

Bebê Rena é baseada em uma história real

Bebê rena: uma história real sobre baixa autoestima

A série Bebê Rena (Baby Reindeer) está dando o que falar por vários motivos. Primeiro por ser intrigante a ponto de ser impossível não maratonar. Segundo por ser baseado em uma história real (!!!). Terceiro porque é difícil de acreditar que algo tão maluco assim aconteceu de verdade. A história gira em torno de Donny, um aspirante a comediante que trabalha em um pub para pagar as contas; e Martha, uma misteriosa cliente que adentra ao local sem ter dinheiro para consumir nada. Donny percebe que a moça não está nos seus melhores dias e a oferece uma xícara de chá por conta da casa. A partir daí, a história se transforma.  Martha, encantada com uma fagulha de atenção e afeto, passa a stalkear Donny e a persegui-lo de todas as formas; por e-mail, pelo Facebook, Twitter. E, acredito eu, o pior pesadedelo de quem é stalkeado – ela passa a segui-lo ao vivo. No bar, na rua, na plateia onde ele se apresenta. É assustador. Bem, minha ideia aqui não é fazer uma resenha …

redes sociais e saúde mental: tá todo mundo fingindo felicidade no Instagram?

Redes sociais e saúde mental: tá todo mundo fingindo que tá bem?

Hoje eu li uma matéria muito interessante na The Atlantic sobre a saúde mental das adolescentes americanas. Segundo uma pesquisa, o sentimento de tristeza e falta de esperança passou de 36% para 57% nos últimos dez anos, com uma piora expressiva durante a pandemia.  Ironicamente, foi “graças” ao período de confinamento que o tema saúde mental passou a ser tratado com mais seriedade, com a ampliação de serviços, informações e conscientização nessa área.  As redes sociais frequentemente são apontadas como grandes gatilhos da ansiedade e depressão. Em parte, porque elas nos isolam do contato presencial. Ao mesmo tempo, elas nos expõem ao pior do ser humano, segundo essa mesma matéria:  ” In life, treating minor problems as catastrophes is a straight path to misery—but online, the most catastrophic headlines get the most attention. In life, nurturing anger produces conflict with friends and family; online, it’s an excellent way to build an audience. (Na vida, tratar problemas menores como catástrofes é um caminho direto para a miséria – mas online, as manchetes mais catastróficas recebem mais …

Escreva o livro que você gostaria de ler

As mulheres estão insatisfeitas diante do espelho. É a celulite, a barriga que está muito flácida, a pele, o cabelo. Parece que não somos suficientes diante da “perfeição” das redes sociais. Eu também estive (e às vezes, ainda estou) insatisfeita com a minha imagem. É aquela coisa: quando você consegue emagrecer os tais dos dois quilinhos que estavam sobrando, logo caça outra “imperfeição” para encarar diante do espelho. Mas de onde vem essa insatisfação? Quem nos fez acreditar que há algo de errado com nosso corpo? Por que nunca está bom? Eu fiz essas perguntas a mim mesma por muitos anos, mesmo sendo uma mulher que se encaixa no padrão de beleza atual. Li muitos livros a respeito destes temas, vi documentários, filmes, palestras; ouvi podcasts. Uma coisa que eu notava em comum em todos esses conteúdos é que as raizes da pressão estética sofrida pela mulher já estão muito bem estudadas e fundamentadas. Mas ainda pouco se fala das consequências e, sobretudo, sobre o que a gente pode fazer pra tentar ressignificar a nossa …

“Fake famous” desmascara a cultura dos “likes”

“Stop making stupid people famous“. A frase, que em tradução literal significa: “Pare de fazer pessoas estúpidas famosas”, nunca esteve tão atual. Todo dia vemos alguém, com milhares de seguidores, falando algo de forma irresponsável na Internet.  A fórmula é sempre a mesma: a pessoa posta algo polêmico que choca/desagrada um monte de gente. Daí, ela faz um vídeo dizendo que sua fala foi “mal-interpretada” ou “tirada de contexto”. Passa uma semana, um mês talvez…e o ciclo se repete. E assim ela se mantém em evidência, às vezes até ganhando mais seguidores. A cultura dos likes está bagunçando a nossa percepção das coisas. Ainda acreditamos que o número de curtidas e de seguidores é sinônimo de credibilidade.  Por isso hoje eu vim para indicar um documentário que mostra um pouco sobre como é relativamente “fácil” fazer alguém ficar famoso na Internet. Fake Famous, da HBO, desmistifica um pouco essa questão, a partir de um experimento feito pelo jornalista Nick Bilton.  Ele recrutou três anônimos e embarcou em uma jornada para transformá-los em influencers super bombados. …

Desperdício de alimentos: uma verdade indigesta

O Brasil enfrenta uma enorme crise de insegurança alimentar e muita gente se viu forçada a mudar seus hábitos por questões econômicas. A pandemia piorou muito este quadro, por conta do cenário econômico, e é triste pensar que tanta gente não sabe se vai conseguir garantir uma única refeição ao longo do dia. São 19 milhões de brasileiros lidando com a fome atualmente. Ao mesmo tempo, estamos jogando muita comida fora. O Índice de Desperdício de Alimentos 2021 da Organização das Nações Unidas (ONU), publicado no último mês de março, indica que em 2019 foram desperdiçados cerca de 931 milhões de toneladas de alimentos, o que corresponde a 17% do que estava disponível para consumo.  É claro que não somos os únicos culpados, esse índice também inclui restaurantes, comércio varejista e outros serviços alimentares. Mas o que cada um faz individualmente na sua casinha também conta – e muito. E eu imagino que muita gente nem se dá conta do impacto que suas escolhas individuais têm no todo.  É compreensível: não existe uma conscientização muito …

o que é ser velho?

O que é “ser velho”?

Semana passada começou a rolar uma thread no Twitter que evidenciava um conflito de gerações: aparentemente, pagar boleto, ser fã de “Friends” e gostar de cerveja litrão seriam “coisas de velho”. Eu me divirto com esses embates que tomam conta das redes sociais, e, nesse caso específico, me identifiquei 200% com os hábitos típicos da geração Millenium, ou seja, pessoas nascidas entre 1981 e 1996.   Me fez refletir sobre o que eu considero “ser velho”. Depois de muito conversar com meu marido sobre o tema (sim, threads e memes do Twitter geram boas e profundas discussões aqui em casa), concluí que só fica velho quem desiste da vida, quem acha que é tarde para fazer determinadas coisas.  Não ignoro o fato de que a idade traz algumas limitações físicas – mas acredito que até isso a gente consegue contornar a partir de hábitos saudáveis ao longo da vida.  Mas me refiro ao brilho no olhar que a gente tem quando se apaixona por algo novo. A partir do momento que não tem mais isso, envelheceu, …

projeto dove autoestima

Hello, beautiful

Quando eu trabalhava em redação, cobria muita pauta de moda e beleza. Frequentemente, quando estava diante de modelos, atrizes e cantoras belíssimas, eu sentia como se elas tivessem passado pelo Photoshop antes do evento: pele, make e cabelos impecáveis; roupas nos cortes e tons corretos; corpos esguios; músculos definidos. Nenhum sinal de excesso de gordura, nenhuma mancha, nenhuma celulite aparente. Nas raras vezes que eu conseguia ir ao banheiro para fazer um xixi, e esbarrava comigo mesma no espelho, era sempre um choque: “caramba! Acho que eu devia ter me arrumado um pouquinho mais” – era o que eu pensava invariavelmente.  Evidentemente, quando eu saía correndo para uma pauta, eu não estava lá muito preocupada com meu cabelo (que provavelmente estava preso por uma caneta em um coque, pra não cair na minha cara e me atrapalhar) ou com as minhas roupas (procurava usar peças mais confortáveis e tênis ou sapato baixinho, para aguentar longas jornadas de pé). Não tinha cabimento algum eu comparar a minha imagem – de uma mulher comum – com a …

Quantas autoras negras têm na sua estante?

É bizarro que em 2021 eu esteja escrevendo um texto como esse, incentivando a leitura de autoras negras. O certo, certo, meeesmo, seria nem precisar citar se uma escritora é negra ou branca. Mas ainda precisamos exaltar este tipo de informação porque mulheres ainda são minorias nas prateleiras. Mulher e negra então, mais raras ainda.  Por isso a gente tem que falar, compartilhar, indicar e apoiar, para que as chamadas “minorias” recebam o reconhecimento que merecem e deixem de ser minorias.  Quanto mais voz damos para as pessoas que não estão no padrão homem-hetero-branco-rico, mais representatividade e diversidade teremos.  Afinal, todo mundo quer se reconhecer em um texto, em um livro, ou se identificar com um personagem de uma série, novela, ou filme, não é verdade? Diversificar nosso consumo de conteúdo é uma forma de sairmos das chamadas “bolhas”, onde todo mundo se parece com a gente e pensa da mesma forma.  Ganhamos muito quando conseguimos ver a vida sob a ótica de alguém que veio de um contexto diferente do nosso. ♡ Com vocês, …

documentario-sandy-e-junior-a-historia

Eu acho que pirei

A quarentena fez minha saudade do Brasil quadruplicar e um dos “presentes” que eu me dei foi uma assinatura do Globoplay. Eu evitava assinar por medo de me apegar às novelas e passar muito tempo ouvindo o idioma português (aconteceu).  Amo minha língua, mas me forço a treinar o inglês na maior parte do meu tempo, para que eu fique cada vez melhor. Coisa de gente nerdinha e perfeccionista.  Um belo dia, caí no documentário que conta a história da dupla Sandy & Júnior. Nunca fui fã assumida, mas gosto muito de saber a história das pessoas e esta série é praticamente uma biografia da trajetória profissional dos dois. Mal pisquei, terminei. Nem vi o tempo passar. Fiquei fascinada com o profissionalismo daquelas crianças, com a seriedade, com a lucidez de não se comportarem em nenhum momento como dois deslumbrados escrotos – como tanta gente com bem menos fama acaba se transformando. Bom, independente do seu gosto musical, é preciso admitir: o sucesso destes dois não foi uma alucinação coletiva; foi algo bem real. Turu …