A série Bebê Rena (Baby Reindeer) está dando o que falar por vários motivos. Primeiro por ser intrigante a ponto de ser impossível não maratonar. Segundo por ser baseado em uma história real (!!!). Terceiro porque é difícil de acreditar que algo tão maluco assim aconteceu de verdade.

A história gira em torno de Donny, um aspirante a comediante que trabalha em um pub para pagar as contas; e Martha, uma misteriosa cliente que adentra ao local sem ter dinheiro para consumir nada. Donny percebe que a moça não está nos seus melhores dias e a oferece uma xícara de chá por conta da casa. A partir daí, a história se transforma. 

Martha, encantada com uma fagulha de atenção e afeto, passa a stalkear Donny e a persegui-lo de todas as formas; por e-mail, pelo Facebook, Twitter. E, acredito eu, o pior pesadedelo de quem é stalkeado – ela passa a segui-lo ao vivo. No bar, na rua, na plateia onde ele se apresenta. É assustador.

Bem, minha ideia aqui não é fazer uma resenha sobre a série, até porque os personagens são super complexos. Daria uma tese. E vale avisar que trata-se de uma história bem pesada que pode despertar muitos gatilhos, então, pense bem antes de apertar o play.

Mas me rendeu algumas reflexões, especialmente porque nos últimos anos tenho me dedicado a pesquisar e entender o que está por trás da nossa busca por aprovação. Acredito que a baixa autoestima é um elemento que está presente em boa parte dos conflitos humanos. 

Todo mundo quer ser ouvido, todo mundo quer ser visto

Pra mim, a série escancara uma necessidade real e nítida nos tempos atuais, a de que as pessoas querem ser ouvidas. Querem ser vistas. Por isso eu acredito que Bebê Rena é, entre outras coisas, uma série sobre autoestima – baixa, no caso.  

Em um mundo cada vez mais individualista, onde muita gente prefere ficar olhando o celular mesmo quando está na companhia de outras pessoas, é raro encontrar quem está disposto a ouvir com interesse genuíno. 

O fato de Martha ficar obsecada por Donny pelo simples fato de ele ter a oferecido três segundos de atenção faz com que consigamos ter compaixão pela personagem, até mesmo diante das maiores atrocidades cometidas por ela. 

E tudo se torna ainda mais profundo quando a gente se dá conta que Donny também precisava de atenção, de alguém que o enxergasse. E é aí que o tóxico elo entre os dois se cria. 

Autoestima e pertencimento

Eu sempre acabo achando um gancho nas coisas que consumo com meu livro (é mais forte que eu, rs). Durante a pesquisa para a escrita do Além do Like, eu estudei sobre pertencimento. E descobri que a dor de se sentir excluído, a chamada “dor social”, pode ativar as mesmas regiões cerebrais acionadas quando passamos por dores físicas. Ou seja, ser rejeitado dói mesmo, não é só força de expressão.

Os personagens da série têm diversos motivos para se sentir rejeitados e excluídos. E, na vida real, não faltam exemplos de situações e períodos da vida em que nos sentimos da mesma forma.

Para escrever sobre padrões de beleza, tive que entender de onde vem a nossa obsessão quase inconsciente por se adequar. O fato de a maioria das pessoas estar constantemente em busca de um rosto e um corpo que seja aceito e validado pela maioria tem a ver com querer ser aceito, querer pertencer. 

Só que pertencimento não é sobre tentar agradar se adequando, é justamente o contrário. É “encontrar sua turma” e ser aceito como você é. Na trama, dá pra ver que de alguma forma a dupla Martha e Donny se reconhecia e se aceitava.

Eu espero que, com o meu livro, eu consiga ajudar as pessoas a encontrarem seu lugar no mundo sem ter que se modificar e se machucar tanto. ♡

Obs1: Jessica Gunning fez esse papel de forma brilhante.

Obs.2: Uma curiosidade altamente intrigante é que Richard Gadd, que escreveu a série e interpreta Donny, é o próprio dono da história. É surreal constatar o seu nível de entrega e coragem de contar uma história real com tantos detalhes sórdidos. Em entrevista, ele relatou que reviver tudo isso para a série funcionou como uma terapia. 🙂  

Sobre o meu livro

O “Além do Like – O que está por trás da nossa eterna aprovação por meio da imagem” é o meu primeiro livro-reportagem, lançado no início de 2023. Ele é fruto de uma ampla pesquisa que começou em 2014, desde que comecei a me interessar e escrever profissionalmente por comportamento alimentar. Minha busca inicial com o livro era tentar entender por que as mulheres estão cada vez mais insatisfestas diante do espelho. 

Os padrões de beleza atuais afetam quase todas as mulheres – até mesmo as que se encaixam. As revistas, o cinema, a TV e as redes sociais, com seus filtros e corpos “perfeitos”, são combustíveis para a crescente pressão estética. 

Entrevistei diversos especialistas (nutricionistas, psicanalistas, psicólogas, educadoras físicas) e reuni estudos atuais sobre os temas abordados.

Ouvi 40 depoimentos de mulheres – desde ex-modelos, atrizes globais, youtubers e influencers, até as que não têm a própria imagem como ferramenta de trabalho, como professoras, publicitárias, estudantes, empresárias e donas de casa.

Em comum, todas já tiveram/têm que lidar com frustrações e traumas ligados às cobranças sobre o corpo. 

Meu desejo é que essa leitura incentive uma vida com menos foco nas aparências, e mais nas experiências. Por uma vida Além do Like! 

Como comprar?

É só me mandar uma mensagem pelo meu Instagram. O pagamento é via PIX e a entrega é feita pelo Correio para todo o Brasil.