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Beauty Sick: livro mostra como “doença da beleza” afeta mulheres

Beauty Sick Renee Engeln

Renee Engeln estava dando aula para uma classe cheia de meninas quando notou que elas andavam excessivamente preocupadas com a aparência – o peso, a pele, o cabelo, a roupa, a pose certa na hora de tirar foto.

Ela teve um insight e foi falar com a sua orientadora. Queria estudar mais de perto o que chamou de “doença da beleza”. Ela queria explorar o porquê dessas meninas estarem tão ocupadas com a própria imagem. 

E foi assim que a professora e Ph.D em Psicologia mergulhou nesse tema e, há mais de 15 anos, lidera o Body & Media Lab, na Northwestern University.

É neste laboratório que, junto a um grupo de pesquisadores e psicólogos, ela estuda os fatores que impactam a imagem corporal das mulheres. 

Os estudos e aprendizados que ela coletou por lá ao longo destes anos viraram um livro, Beauty Sick, publicado em 2017. 

A ciência por trás da beleza

Escolhi trazer a referência da Renee Engeln como dica de leitura hoje porque, na semana passada, a Naomi Wolf, autora de O Mito da Beleza, virou assunto por se posicionar como uma pessoa negacionista na sua página do Twitter. 

Ficou claro que ela não acredita em vacina, nem no uso de máscara, o que deixou indignada muita gente que é fã do seu trabalho. 

Afinal de contas, como uma pessoa que escreveu um livro tão importante não acredita na ciência? De onde então ela teria tirado todo o embasamento do seu livro? Em achismos? 

Vi algumas críticas nesse sentido e também fico furiosa com quem nega a ciência. Realmente, por essa eu não esperava, Naomi!

Mas ainda que O Mito da Beleza seja baseado numa teoria que a própria autora desenvolveu, sem embasamento científico, ele é um livro importante.

É uma porta de entrada para quem quer começar a entender um pouco mais sobre o quanto os padrões de beleza, de certa forma, atrasam a vida das mulheres. 

Naomi não é cientista, mas foi a partir do livro dela que desenvolvi interesse pela coisa e fui buscar outras referências. 

Foi por causa dele que acabei chegando até Renee – essa sim, autora de um livro 100% baseado em ciência. Nele, a autora comprova algumas das questões que Naomi levantou há 30 anos. 

O livro traz depoimentos de diversas mulheres com relações conturbadas com o próprio corpo, confrontados por estudos científicos que explicam um pouco a origem dessa insatisfação. 

Sem tempo pro espelho

Em todos estes anos de estudo, Renee pôde confirmar que sim, as mulheres gastam mais tempo e dinheiro cuidando da beleza do que os homens, o que faz com que nossa energia fique muito concentrada na aparência.

Energia essa que poderia ser investida em estudos, viagens, hobbies, projetos profissionais, relacionamentos de qualidade, etc. 

E assim vamos ficando para trás dos homens, que, apesar de hoje em dia também sofrerem mais pressão estética do que antigamente, ainda são bem menos cobrados por uma imagem perfeita. Eles dedicam menos tempo ao espelho, isso é um fato. 

Objetos de observação

Em seu TED Talks, Renee confirma que essa busca pela autoestima com foco na aparência faz com que, em comparação aos homens, as mulheres sejam mais propensas a odiar o próprio corpo; a desenvolver transtornos alimentares e a fazer mais cirurgias plásticas. 

A beauty-sick culture never lets women forget that their looks are always up for evaluation by others. 

Renee Engeln, PhD, Beauty Sick

Tudo isso vem de uma concepção, quase que inconsciente, que estamos o tempo todo sendo observadas, que o nosso corpo precisa servir ao olhar dos outros. 

É essa crença que Renne busca quebrar com o livro; ela bate na tecla que o nosso corpo está aqui para nos servir, para nos levar para os lugares, para viver experiências…e não para ser um “enfeite”, ou para agradar.

Tira a calça jeans, bota o fio dental a calça confortável 

A temática da autoimagem é complexa e vai além do corpo, pele e cabelo. Ela também influencia outros aspectos da vida das mulheres, desde os mais complexos, como a tomada de decisões importantes, até os mais simples e aparentemente banais, como a escolha da roupa que vamos vestir.

Quem nunca usou uma calça jeans apertada porque “vestia bem”, mas passou um dia todo incomodada? Ou uma cinta para apertar a barriga para poder se sentir bem dentro de um vestido? 

E o ponto que Renee levanta é: se você está desconfortável, seu foco vai ficar dividido entre o incômodo causado pela roupa e o que você estiver fazendo, seja no âmbito profissional ou pessoal.

Digamos que você esteja em uma festa. Se você estiver preocupada/incomodada com a cinta, com o salto ou com o sutiã que levanta os seios, não vai estar 100% entregue à diversão, às conversas, às trocas. 

No longo prazo, isso pode representar uma grande perda de tempo e de oportunidades de vivenciar experiências de uma forma mais completa.  

Menos foco na imagem, mais no que é durável 

Um ponto comum entre praticamente todos os livros que eu li com a temática dos padrões de beleza é: o problema todo não é o fato da mulher querer cuidar da própria imagem. O problema é achar que sua imagem é o seu bem maior. 

A beleza é efêmera, mas outros valores não; como conhecimento, bagagem, senso de humor, as habilidades únicas e particulares de cada uma; etc. Já falei bastante disso por aqui, então deixo o vídeo da Renee (que tem legenda em português) nas referências caso você se interesse pela pesquisa dela. 

O livro também é uma excelente fonte de aprendizado, pois traz algumas soluções práticas para quem quer começar a desconstruir esse olhar viciado que nós temos sobre os ideais de beleza. 

O primeiro passo é tomar consciência sobre isso. Para começar, O Mito da Beleza é uma ótima pedida. Mas vale muito a pena ir além dele também.

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Referências

Beauty Sick – How the cultural obsession with appearance hurts girls and women
Autora: Renee Engeln
Ano de publicação: 2017

An epidemic of beauty sickness | Renee Engeln | TEDxUConn 2013
https://youtu.be/63XsokRPV_Y

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