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Viva Gloria Steinem! Saiba mais sobre este grande ícone

Escritora feminista Gloria Steinem faz 87 anos

Eu não conhecia Gloria Steinem até vir morar nos Estados Unidos. Não sei dizer exatamente quando foi a primeira vez que ouvi falar dela, mas assim que comecei a estudar sua trajetória, senti que tinha encontrado uma verdadeira musa inspiradora. 

Confesso que fiquei me perguntando:  “onde é que eu estava que não conhecia esse ÍCONE?”. Tratei logo de correr atrás do tempo perdido e me inteirar sobre o que essa jornalista, escritora, ativista política e organizadora feminista fez e continua fazendo em sua constante busca pela igualdade e pelos direitos das mulheres. 

É um pouco difícil escrever sobre alguém que a gente admira tanto. Mas hoje ela comemora 87 anos e eu tive vontade de reunir alguns fatos, para que, dessa forma, outras mulheres também se sintam inspiradas por ela. ♡

Seria impossível em um só texto falar sobre todos os seus feitos, então escolhi alguns dos aspectos da sua biografia que eu considero mais fascinantes. 

Raízes 

Gloria teve uma infância atípica. Sua mãe também foi jornalista, mas desistiu da profissão. Tinha um sério problema de depressão e, embora fosse uma mãe amorosa, vivia recolhida, medicada e deitada. 

O pai, em contrapartida, era expansivo e passava boa parte do tempo viajando. Conseguia alguns trocados vendendo quinquilharias em cidades pequenas e literalmente vivia “o hoje”, sem pensar no futuro.

“If you don’t know what’s going to happen tomorrow, it could be wonderful.”
(Se você não sabe o que vai acontecer amanhã, pode ser maravilhoso) – Essa era uma das frases que ele sempre falava para a filha

Sendo assim, Gloria acabava se dividindo entre os cuidados com a mãe, e o carpe diem style do pai. Essas circunstâncias a privaram de uma rotina tradicional, como por exemplo, ser matriculada em uma escola, frequentar as aulas regularmente e finalizar um ano letivo como as outras crianças.

Embora Gloria conte em seus livros e entrevistas que, quando pequena, sonhava em ter uma vida mais “normal’’, ela acabou pegando gosto pela vida na estrada. 

Tanto que foi assim que passou – e ainda passa, aos 87 – boa parte dos seus dias: viajando para os mais diversos lugares do mundo, colecionando histórias e brigando (sempre com muita doçura) pelas minorias. 

Uma excelente ouvinte

Na juventude, Gloria se formou pelo Smith College e fez um intercâmbio na Índia. Lá, começou a ter os primeiros contatos com causas femininas. 

Ela sentava em roda com as mulheres, ouvia e anotava tudo. Elas, por sua vez, enxergavam naquela jovem uma verdadeira confidente, alguém para quem poderiam desabafar sobre as torturas que sofriam escondidas. Se sentiam ouvidas. 

E assim Gloria se descobriu jornalista, ao reconhecer o poder que vinha das histórias daqueles que não tinham voz. 

Depois de dois anos nessa experiência, passou a trabalhar como jornalista freelancer e, já em Nova York, tentava emplacar pautas ligadas aos direitos das mulheres por todos os lugares que passava. Mas não foi fácil.

Encarando o machismo nas redações

Gloria teve que suar bastante para provar que era mais que um “rostinho bonito” nas redações. Teve que lidar com assédio e preconceito de todos os tipos, vindo tanto de homens quanto de mulheres. 

Mas uma das maiores dificuldades era conseguir convencer os chefes para escrever sobre as coisas que ela considerava importante para as mulheres naquela época. 

Se hoje já é difícil falar sobre o direito ao aborto, violência doméstica ou equidade salarial, por exemplo, imagine na década de 60?

Ela conta que seus editores insistiam em pedir pautas mais leves e menos politizadas, como maquiagem ou moda, por exemplo. Era isso que eles consideravam “coisa de mulher”. Ela se sentia frustrada, mas não desistia.

Coelhinha espiã

Em 1963, Gloria conseguiu um emprego como “coelhinha da Playboy”, para atuar como garçonete em um dos clubes da revista. Vestida a caráter, ela investigou de perto os abusos aos quais as mulheres que trabalhavam nessa função tinham que se submeter.

Ela transformou a experiência em uma reportagem de denúncia, e a repercussão foi tão grande que as condições de trabalho dessas mulheres de fato foram revistas e melhoradas. 

Essa reportagem trouxe algum destaque para o trabalho de Gloria como jornalista, mas as pautas feministas ainda estavam em segundo plano na cabeça dos editores da época; majoritariamente homens e brancos. 

Em busca de histórias

O fato de ouvir tantos “nãos” nas redações fez com que Gloria ficasse ainda mais indignada com a forma desrespeitosa como as mulheres eram tratadas, especialmente no ambiente de trabalho. 

Assim, ela começou a se envolver cada vez mais com coletivos feministas e a se aliar com mulheres que estavam atuando na linha de frente dessas causas. 

Gloria sempre buscou dar voz para as minorias de um modo geral. Sempre caminhou junto e buscou ouvir e aprender com negras, indígenas, lésbicas, trabalhadoras rurais, etc. 

Foi ouvindo histórias que ela se descobriu ativista, e assim se tornou uma peça fundamental em alguns dos maiores eventos históricos do feminismo. Como o National Women’s Political Caucus, que ajudou a fundar em 1971, e que nasceu com o objetivo de ampliar a participação das mulheres na vida política e pública. 

Ms. Magazine

Os “nãos” também deram força para que Gloria fundasse com outras ativistas uma das primeiras publicações feministas da história, a Ms. Magazine. O nome, por si só, já é uma provocação. 

Como em inglês “Miss” é o pronome de tratamento dado a mulheres solteiras, e “Mrs”, para as casadas ou viúvas, elas decidiram cravar o “Ms”, um pronome neutro, que não depende do estado civil de uma mulher. Vraaá!

A revista existe até hoje e sempre levantou pautas polêmicas, geralmente barradas em outras redações por conflitos com anunciantes. 

Uma curiosidade

Gloria sempre teve pavor de falar em público. Por isso ela buscava se aliar com mulheres fortes e desinibidas que a ajudavam nessa função. E foi assim que ela foi perdendo o medo e acabou se tornando um dos maiores nomes da chamada segunda onda do feminismo. 

O que eu acho mais interessante disso tudo é que Gloria já enfrentou as mais espinhosas plateias falando baixinho, com sorriso nos lábios e uma leveza incomparável. 

Nada me tira da cabeça que essa é a melhor forma de combater o extremismo: estimulando o diálogo de forma respeitosa.

Uma mulher livre e à frente do seu tempo

Para mim, Gloria é uma referência de mulher livre. E quando falo de liberdade aqui, me refiro à capacidade de ir na contramão dos padrões esperados para sua época. Gloria é de um tempo em que a expectativa em torno da mulher era casar e ter filhos.

Pois bem, ela não teve filhos por opção própria. Se casou pela primeira vez aos 66 anos, porque foi o único momento da vida em que viu sentido em fazer isso. Além disso, preferiu viver na estrada fazendo ativismo do que se render a um emprego fixo e a uma vida mais estável e previsível. 

Resumindo, ela tacou um enorme “f*da-se” para o tal do check-list que esperam de uma mulher “bem-sucedida” e viveu com base nos propósitos que realmente acredita. Esse é o maior exemplo de liberdade para mim. 

Só reforçando: casar e ter filhos não é sinônimo de prisão! Desde que a vontade de construir uma família tradicional seja genuína, e não uma obrigação inconsciente de agradar os outros. 

Quer saber mais?

A história de Gloria Steinem é do tipo que daria um filme – e deu mesmo!

O longa The Glorias traz a sua história em quatro atos e conta boa parte da sua biografia. Além disso, Gloria tem vários livros publicados, é produtora de vários documentários e está sempre sendo entrevistada. 

Ela é a prova viva de que a idade é um pequeno detalhe, que não impede ninguém de trabalhar por um mundo melhor. 

Vou deixar algumas referências para quem, assim como eu, quer entrar para o mundo maravilhoso de Gloria. ♡


Referências

Filme

“The Glorias” (2020)
Disponível em várias plataformas digitais

Livros

My life on the road
Título brasileiro: “Minha vida na estrada”
Autora: Gloria Steinem
Ano de publicação: 2016

The Truth will set you free, but first it will piss you off!
Autora: Gloria Steinem
Ano de publicação: 2019

Entrevista

Dica de podcast


Foto principal: Nancy Gee | gloriasteinem.com/divulgação

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