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Precisamos de mais uma rede social?

Clubhouse é a rede social do momento, e por enquanto só é possível entrar por lá com um iPhone e um convite

Tá rolando um buxixo sobre uma nova rede social aí: tal de Clubhouse. Acho engraçado o burburinho que se forma quando surge algo do tipo. Os criadores vendem o aplicativo como “exclusivo”, “só para quem tem iPhone”; “só entra com convite”. 

Daí começam a pipocar pessoas dizendo que têm convites para distribuir, como se a tal rede fosse uma balada glamourosa que você pode acabar ficando de fora. Fácil ser comunista na Internet (também sou), mas no fundo o que todo mundo gosta mesmo é de uma boa e velha listinha VIP. 

Isso fatalmente atrai curiosidade e aumenta o desejo sobre algo que é “para poucos”. Mas se o aplicativo vingar, daqui a pouco todo mundo vai conseguir entrar nessa balada. E aí o tal glamour gerado pelo climinha de mistério desaparece.

Em se tratando de redes sociais, a “balada dos vipões”, com o tempo, acaba virando o famoso churrascão na laje: caótico, ruidoso, diverso e democrático.  

Com o Facebook foi assim, com o Instagram também. Até com o Orkut foi assim e, bem, o Orkut virou…o Orkut. Me parece que a “orkutização” das redes sociais é um caminho sem volta. Ainda bem. 🙂

E a preguiça? 

A primeira coisa que eu penso quando surge uma rede social nova é: preciso de mais uma? Mais um lugar para me causar ansiedade e FOMO; para eu sentir que deveria estar me informando mais, trabalhando mais, vivendo mais? 

Tento resistir e não baixar. Porém, como sou da comunicação, não consigo por muito tempo. Tenho interesse real em conhecer as novas ferramentas, saber como as pessoas estão se comunicando, do que estão falando.

O fato é que ainda não tenho uma opinião formada sobre o Clubhouse porque não aguentei ficar nem dez minutos nele. Não porque odiei, mas porque novidade assusta mesmo. 

De um modo geral, nosso cérebro gosta mais das coisas com as quais já estamos familiarizados, pois são mais fáceis de lidar e portanto mais confortáveis. Assim ele não tem tanto trabalho. Tudo que é novo causa estranheza, gera dúvida, dá preguiça.

E tome dancinha

Posso dizer que a sensação ao entrar no Clubhouse foi parecida com a que senti quando cheguei no TikTok e vi aquele monte de gente fazendo dancinha, dublagem e gincana de casal sobre qual parceiro é o mais ciumento. Me senti sobrecarregada de informação. Saí correndo. 

No entanto, dei uma chance, duas, e, gradativamente, comecei a achar alguma graça naquilo. Encontrei pessoas interessantes para seguir, e dei muita risada. Já enjoei de novo, mas de vez em quando volto lá e às vezes até arrisco fazer meus próprios videozinhos. Às vezes a gente precisa de um tempo para entender as novas linguagens.

Muito embora o cérebro aprecie o que é familiar, ele também gosta de aprender coisas novas. Essa é uma das vantagens que podemos tirar das redes sociais.

Tédio, likes e saúde mental 

As pesquisas que investigam a relação entre comportamento digital e saúde mental estão mais quentes do que nunca. Você nem precisa ser heavy user de Instagram, Twitter ou Facebook para perceber que passar algum tempo nessas redes pode mexer com o nosso estado de espírito. 

O surgimento da pandemia acendeu ainda mais essa discussão, pois, ficando mais dentro de casa e isolados, temos mais tempo. Com mais tempo, ficamos entediados. E, para afastar o tédio, corremos para as redes sociais. E ficamos ali por horas, rolando o feed, tentando descansar a mente das notícias do mundo real. 

Mas dependendo da forma como encaramos estes feeds, podemos entrar numa bad – ou não. 

Não é o quanto você usa, é como você usa

A revista britânica Stylist destacou resultados de um estudo que mediu o impacto do comportamento online na nossa saúde física e mental, conduzido pelo Dr. Lee Smith na Anglia Ruskin University.

A pesquisa mostrou que nosso estado de humor pode variar se interagimos de forma ativa ou passiva nas redes. Ser passivo é basicamente ficar rolando o feed, sem se envolver com nada. Ser ativo é o oposto, e não se resume somente a produzir conteúdo e postar, mas também compartilhar ou comentar posts, participar de conversas, etc. 

Foi observado que os participantes que ficaram 20 minutos olhando as redes sociais de forma passiva tiveram uma queda de humor. Já os que usaram de forma ativa, tiveram uma melhora. 

Em outras palavras, ser ativo na rede significa ter mais interações sociais, o que é comprovadamente um fator importante para nossa saúde mental. 

Parece um resultado óbvio, mas esse é um indicador importante para avaliarmos nossa própria experiência dentro destes aplicativos e tentarmos gastar mais tempo de qualidade por lá. 

Encontre o seu rolê

Embora já existam por aí muitas fórmulas e dicas sobre como usar as redes sociais sem prejudicar a saúde mental, acredito que ainda vão alguns anos até aprendermos a nos relacionar de forma mais saudável com todos estes estímulos. 

Não tenho uma resposta para a pergunta que coloquei no título deste texto. Mas o que eu diria para quem está sentindo algum impacto psicológico negativo por conta das redes é: não precisa fazer o que todo mundo está fazendo. 

Gosto dessa ideia de usar as redes de forma mais ativa, mas desde que faça sentido. Seja no Twitter, TikTok, Instagram ou qualquer outra, cabe a nós mesmos escolher o tipo de conteúdo que vamos consumir; quem a gente realmente quer acompanhar; para quem vamos doar nosso tempo. 

Pode ser muito legal usar as redes para interagir com pessoas que realmente inspiram, geram troca e identificação. Essa é uma decisão nossa, está nas nossas mãos.

Isso é se envolver de forma ativa com as redes sociais. É saber conduzir sua própria jornada por lá, e não deixar ser conduzido. 

Volto à analogia da balada para lembrar que nem sempre a mais hypada é a mais legal. O rolê mais legal, seja offline ou online, é aquele que a gente encontra gente interessante, tem troca verdadeira e, acima de tudo, se diverte. O resto é só modinha mesmo. E modinha passa. 

O tempo vai dizer se esse vipão do Clubhouse (que de fato parece nome de balada!) vai valer todo esse hype. 


Referências

Social media & mental health: why the way you behave online could make a big difference to your wellbeing
https://www.stylist.co.uk/health/mental-health/social-media-active-passive-use-study/482918

Actively consuming social media could benefit your mental health, study finds
https://bit.ly/3731NO5

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Foto principal: Rodion Kutsaev | Unsplash

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