All posts tagged: padrões de beleza

Precisa ser magra pra dançar balé?

Carol fazia ginástica olímpica, jazz e natação. Mas quando via bailarinas clássicas, o olho brilhava! Ela achava lindo, se identificava. Era como se a dança já estivesse dentro dela. Mas, do alto dos seus 11 aninhos, sentia que estava “velha”. Porque é preciso começar novinha, né? E é preciso ser magra, ou não vai pra frente na dança. Esse tipo de crença impede muita mulher de dançar, ou de praticar qualquer tipo de arte que dependa do corpo.  Mas com a Carol foi diferente. Demorou dez anos, mas ela finalmente se deparou com uma matéria sobre balé adulto, estampada pela atriz Alinne Moraes. “Eu falei: ‘nossa, isso existe!’. Se existia o termo ‘balé adulto’, se tinha gente fazendo, tinha escola que aceitava adulto. Foi quando comecei, com 21 anos.” O perfil da Carol Lancelloti (@meiaponta) me chamou atenção desde que comecei a mergulhar mais profundamente nos estudos sobre padrão de beleza e pressão estética. Afinal, dentro da rigidez do balé clássico, ela enfrentou dois paradigmas –  o do corpo e o da idade. Coincidentemente (ou …

Documentário aborda beleza e representatividade da mulher na mídia

Outro dia, li uma entrevista com uma atriz que dizia que não via quase nada de bom em envelhecer. Listou umas duas ou três coisas ligadas ao amadurecimento emocional como fatores positivos; em contrapartida, a lista de angústias era gigantesca. O pescoço anda muito enrugado, a barriga já não é mais a mesma, as linhas de expressão a obrigam aplicar botox o tempo todo…é, não deve ser fácil viver de imagem num mundo em que valoriza tanto a aparência da mulher. Para nós, é implicitamente negado o direito de envelhecer.  Enquanto há material suficiente na mídia sobre como nos comportar, o que vestir, o que comer (e principalmente o que NÃO comer) e o que passar na cara para congelar o tempo, pouco se fala sobre a origem dessa pressão estética. O documentário Miss Representation é de 2011, mas, mesmo quase dez anos depois, ainda é super atual (infelizmente). Ele aborda a forma como a mídia e cultura contribuem para colocar a mulher nesse papel de obediência e submissão. Não pode envelhecer, não pode engordar, …

Piazza San Pietro Roma

Você quer ser linda para você…ou para os outros?

* English version below  A gente tem umas bobeiras na adolescência, né? A imagem é algo muito importante nessa fase da vida e parecer belo aos olhos dos outros é um privilégio de poucas. Sim, porque a maioria vai ter um “defeito” pra virar alvo de piada. Tem a gorda, a magrela, a que tem muita espinha, a que tem muito peito (ou a que não tem nenhum), a que tem o cabelo “assim” ou “assado”….enfim, a lista é infinita.Tenho lido muito a respeito de insatisfação corporal e uso os adjetivos acima no feminino porque as mulheres, historicamente, sempre foram mais cobradas que os homens para se encaixar nesse tal padrão de beleza. Quando eu tinha meus 11, 12 anos, não gostava muito do meu nariz. Na verdade, eu até gostava, mas aí me mudei de prédio, fiz uma turminha nova e, no julgamento deles, meu nariz era grande demais.  Acreditei nisso por um tempo. Mas, felizmente, venho de uma família amorosa que sempre me mostrou que eu era suficientemente linda aos olhos deles. E que …

E o tempo que a gente perde cuidando da imagem? Vale a pena? 

Às vezes fico pensando que eu poderia ter chegado em Harvard se tivesse dedicado aos estudos o mesmo tempo que gastei, ao longo da vida, cuidando da minha imagem. E olha que não sou das pessoas mais vaidosas do mundo. Não vou a salões de beleza, não faço tratamentos estéticos, nunca fiz plástica e a última vez que passei esmalte na unha faz uns seis meses.  Por outro lado: frequento academia, aplico creme no rosto todo dia (de manhã e à noite); sempre passo, além do protetor solar, pelo menos um blushezinho e um rímel antes de botar a cara no sol (e jamais durmo de maquiagem); lavo o cabelo diariamente, faço depilação a cada quinze dias….Frequentemente também perco uns bons minutos antes de sair de casa com dúvidas sobre o que vou vestir. A ideia aqui não é limitar os cuidados com a beleza à uma simples futilidade.  Também não estou dizendo que ser desleixada é o caminho para a felicidade suprema.    Apenas constatei, especialmente nos últimos anos, que muitas dessas rotinas que segui …

Roxane Gay - Livro "Fome"

Fome: este livro pode fazer você repensar o conceito da palavra “gorda”

Li que a Cleo Pires estava sofrendo críticas por ter engordado. A minha primeira reação, confesso, foi visitar o perfil da atriz no Instagram pra ver se a informação procedia. É feio admitir, mas acho que dá uma espécie de alívio saber que até as famosas engordam. É reconfortante saber que oscilar o peso é algo NORMAL, e não um crime, um pecado, ou sinônimo de desleixo.   Pessoas que trabalham com a própria imagem, como a Cleo, geralmente têm uma “infra” para manter a alimentação, o treino, o cabelo e a pele em dia. Coisa que nós, meras mortais, não conseguimos acompanhar. Acho que até por isso sejam mais cobradas – embora eu acredite que ninguém deveria se sentir no direito de julgar.   Notei que ela realmente parecia um pouco maior nas fotos…mas, ainda assim, longe de estar gorda. O que me chamou atenção, no entanto, foi um texto de desabafo que ela escreveu, no qual compartilhava com seus seguidores que sofre, há anos, de transtornos alimentares.  Isso significa que muitos dos likes e comentários …

Golden Gate Bridge - San Francisco, California

Você se sente representada no Insta? Saiba por que isso importa

Não foi à toa que escolhi essa foto para ilustrar esse texto. Nela, você vê um cartão postal, uma menina sorridente e… só. Se você é usuário do Instagram, provavelmente vai ter acesso a centenas de outras fotos parecidas com essa ao longo do dia.  Vai ver pratos incríveis, praias com águas cristalinas, casais apaixonados, best friends forever, looks do dia…e muitos, mas muitos corpos considerados “perfeitos” para o padrão de beleza atual.  Diversas pesquisas têm mostrado que as redes sociais estão bagunçando a saúde mental das pessoas, justamente porque esse bombardeio de estímulos acaba sendo um gatilho para a comparação constante e a sensação eterna de que a vida de todo mundo é incrível – menos a sua.  Esse tipo de frustração pode ter origens diversas, mas acredito que uma das significativas é a falta de representatividade e de identificação. Especialmente no que diz respeito ao corpo feminino. Na era do empoderamento da mulher e de uma maior conscientização sobre o feminismo (amém, MULTIPLICA, SENHOR!), ainda falta muito para vermos uma maior diversidade de …

Mulher Espelho Pexels Photo 136410

“Não há beleza sem saúde e autoestima”: veja entrevista com Marco Tommaso

Ele é psicólogo, psicoterapeuta e especialista em emagrecimento, transtornos de ansiedade, de personalidade e alimentares. Há 20 anos, começou a trabalhar com modelos das agências Elite, L’Equipe e Taxi; e, mais tarde, KeeMod (Elite), Joy e Ford. “No início, a proposta era a prevenção e tratamento de transtornos alimentares. Mas os agentes me fizeram ver que precisavam, também, das outras áreas.  O trabalho é preventivo e trato meninas com transtornos diversos, inclusive alimentares.” Ao longo destes anos, ele pôde observar um traço em comum entre muitas modelos: a insatisfação com o próprio corpo diante do espelho. Em entrevista ao Marmiteira, o Dr. Marco Antonio De Tommaso compartilhou algumas das suas experiências profissionais que podem nos fazer refletir um pouco mais sobre essa loucura chamada “padrão de beleza”. Confira! Na trajetória profissional do senhor, quais as situações mais graves com as quais se deparou, de pessoas em busca do corpo perfeito? Meninas tomando detergente (para provocar o vômito e eliminar as calorias ingeridas), mulheres comendo algodão com água para “encher”  o estômago; e um caso, o mais estranho, …