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A mente está mais perto do estômago do que você imagina; Freud explica

Food Eating Candy Chocolate Creative Commons

“Perca 6 quilos em 5 dias”. Quantas vezes você já viu capas de revista com este tipo de manchete? Pelo menos umas mil, certo? O que não falta nesse mundo de hoje é gente dizendo o que a gente tem que comer, que horas e em que quantidade (isso sem falar que também nos dizem o que vestir e como transar, mas esse não é o assunto do post, rs).

Até que ponto nos deixamos levar por toda essa interferência externa, sem ouvir nossas próprias vontades?

No segundo dia do III Simpósio Brasileiro de Nutrição Comportamental (*), a pauta foi mais focada na ligação da mente e do corpo: o quanto nossos preconceitos, histórias pessoais, sentimentos e influências que sofremos regem a nossa relação com os alimentos. Seguem alguns destaques do dia.

O prazer e a frustração ao comer

A psicanálise explica, desde o seio materno, os sentimentos de frustração e prazer que sentimos ao comer (tem mamá, bebê fica feliz / não tem, chora). “A alimentação é o primeiro idioma que a gente fala“, disse a antropóloga Daniela Araújo em uma das palestras.

Mas se essa relação é construída tão cedo, como chega tão distorcida na fase adulta?

Por mil fatores históricos, culturais e das nossas próprias experiências pessoais ligadas à comida. As dietas restritivas têm um papel fundamental nesse cenário; quem faz por muitos e muitos anos, geralmente acaba perdendo a referência do que realmente gosta de comer. É aquela coisa: será que eu gosto mesmo de peito de peru ou como por que ouvi falar que ele é uma proteína magra boa para o café da manhã (apenas um exemplo).

A psicanalista Luciana Saddi conduziu uma palestra maravilhosa sobre estas questões e reforçou que, quando seguimos planos alimentares muito cheios de privações, perdemos a autonomia sobre a nossa alimentação. E cravou a seguinte frase, que achei belíssima: “somos muito singulares para fazermos uma média humana”.

Ou seja, cada um é cada um. O que funciona bem para o seu corpo, pode não funcionar para o meu.

“Se dieta funcionasse, o mundo todo tinha emagrecido”, reforçou. E completou: “se dieta fosse um remédio, a Anvisa tinha proibido”. L-a-c-r-o-u! 

Clap, clap, clap!


O corpo, a máquina

Outra coisa interessante – ainda falando sobre essa desconexão das pessoas com o próprio corpo (e que eu ainda não tinha parado para pensar) – é o quanto nos apegamos aos números nos últimos anos.

Tem app pra tudo: pra medir a frequência cardíaca, pra contar quantas calorias podemos comer por dia, para medir quantos quilômetros precisamos fazer para eliminar tantos porcento de gordura.

Confesso que sou usuária de alguns deles. Mas vale parar de vez em quando para sentir o que o nosso corpo realmente quer. Isso diminui a nóia com performance e a compulsão alimentar.  

Dieta – Restrição – Compulsão – Culpa

Este ciclo é bem conhecido pela maioria das pessoas que em algum momento da vida tentou perder uns quilinhos. Quando a gente faz dieta consegue parar de pensar em comida? NOT.

Comendo Loucamente!

A restrição aumenta o desejo e assim fica muito mais fácil comer um pacote de bolacha de uma vez e depois se sentir mal física e psicologicamente. Isso não é exatamente uma novidade, mas eu achei legal os exemplos que a psicóloga Rogéria Taragano trouxe para mostrar que o que interfere neste ciclo não são os problemas em si que temos no dia a dia, mas sim, a forma como os enxergamos.

É mais ou menos assim: depois de uma briga, algumas pessoas simplesmente choram, ou ligam para um amigo para desabafar. Outras comem um chocolate (“estou muito mal, PRECISO de um doce”). E o problema nem é comer o chocolate (comer chocolate é bom!). Mas será que essa pessoa prestou atenção ao que está sentindo? O chocolate vai resolver esse problema?

Claro que ele vai disparar a sensação de prazer no cérebro, mas depois que essa euforia do açúcar passar, a tristeza continuará lá.

Mindfulness: é bonito e tá na moda

O conceito de Mindfulness, baseado nas práticas meditativas, é algo já difundido no mundo mas aqui no Brasil tem sido discutido mais amplamente há poucos anos.

A grosso modo, ele é traduzido por aqui como “atenção plena”, ou seja, estar consciente com o seu “eu” no dia a dia. O conceito foi estendido para a área de alimentação e cada vez mais profissionais deste campo estão interessados nessa forma de abordagem, que tem tudo a ver com o que foi falado nos dois dias do evento:

Olhar para o corpo de forma mais holística;
Entender os gatilhos emocionais que nos trazem fome (e tratar a causa);
Cultivar hábitos alimentares sustentáveis (ninguém consegue fazer dieta restritiva a vida toda);
Parar de rotular alimentos como “bons” ou “ruins”;
Focar mais na qualidade, e menos na quantidade;
Usar o equilíbrio e o bom senso na hora de comer;
Comer com atenção, com prazer, sem culpa.

Enfim, tudo que procuro praticar na minha vida e no Marmiteira! O negócio é não parar de tentar. 😉  

(*) Nutrição Comportamental é uma nova abordagem para capacitar o nutricionista, com uma visão focada em comportamento.

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