Author: danibarg

Montagem com diferentes personagens femininas do remake de Vale Tudo, representando estereótipos e transformações na forma como as mulheres são retratadas na mídia. Arte criada por Dani Barg.

As mulheres de Vale Tudo e o poder de desafiar estereótipos

Seja você noveleiro ou não, a pergunta da semana no Brasil atinge até quem está fora do País (incluindo eu!): afinal, quem matou Odete Roitman? O remake de Vale Tudo deu o que falar, não apenas pelo mistério central, mas também pelas representações femininas na TV brasileira, que mostram mulheres desafiando estereótipos e conquistando protagonismo. As polêmicas em torno da adaptação do roteiro foram muitas. Parte porque foi modificado demais; parte por conta de pequenos e grandes furos aqui e ali.  Não sou comentarista de TV, mas eu sou noveleira! E nem o fato de morar fora do Brasil me fez perder essa mania, então, sim, também estou curiosa pra saber quem matou Odete. Dito isso, adianto que esse texto não é para falar das minhas apostas, nem para fazer uma análise crítica da obra.  Hoje eu quero falar de algo que me interessa muito e que está super presente no meu livro, o Além do Like, e nas minhas palestras. Bora conversar sobre as representações da mulher na mídia? Mulheres negras no poder: manda …

Criança sorrindo enquanto aprende com um tablet, representando o uso responsável da inteligência artificial na educação.

Entre o medo e a esperança: o que a IA pode nos ensinar sobre ser humanos

No último fim de semana, participei de um workshop da KQED para professores da Bay Area: Centering Student Voice in a GenAI World. O evento era voltado à educação midiática e ao uso responsável da inteligência artificial em sala de aula. Ok, eu não sou professora (sou escritora e jornalista), mas a equipe organizadora gentilmente aceitou minha inscrição. Fiquei feliz e grata, e lá fui eu para um sábado inteirinho de estudos e reflexões. Mesmo sendo a única da sala que não atua em ambiente escolar, me senti em casa. Ali, todos estavam interessados em um objetivo comum: entender como criar senso crítico em tempos de algoritmos cada vez mais sofisticados. Foi entre educadores e pessoas que pesquisam esses temas há tanto tempo que me peguei pensando: se a inteligência artificial está redesenhando e refinando ainda mais o que consumimos digitalmente, será que nossa relação com as redes sociais vai piorar? É provável que sim, se não investirmos mais intensamente em educação midiática. Mas eu sou uma otimista. Formar senso crítico: a hora é agora …

Mãos segurando livros durante um momento de leitura coletiva, conceito inspirado nos clubes do livro silenciosos

Conexão real fora das telas: o que aprendi em um clube do livro silencioso

Outro dia, um post no Instagram chamou minha atenção. Na foto, várias pessoas sentadas num parque, cada uma com um livrinho na mão, lendo. Era um clube do livro silencioso. Achei a ideia tão interessante! Depois que vi esse post e curti, comecei a receber mais iniciativas como essa no meu feed — o algoritmo nos conhece como ninguém! — e, para minha surpresa, existe um clube do livro silencioso em São Francisco, onde eu moro. Me inscrevi e lá fui eu. A única exigência? Leve o livro que está lendo. Cheguei ao local, um bar aconchegante dentro de um hotel perto de Downtown. Apesar de eu ter sido pontual, as mesas já estavam ocupadas. Ao contrário do que eu esperava, o silêncio não predominava: as pessoas estavam conversando de forma descontraída. Clube do livro silencioso: como é que é isso? Logo que todos se acomodaram, a mediadora pediu que montássemos pequenos grupos para discutir rapidamente sobre o que cada um estava lendo e suas preferências. Conversei com uma das participantes, uma russa cuja preferência …

Capa do livro Além do Like, escrito por Danielle Barg, com fundo laranja e título em letras garrafais

A pressão estética não sai de moda: atualizar nosso olhar é pra ontem

Você já percebeu que a pressão estética nas redes sociais nunca morrem — elas apenas se transformam? Foi para falar sobre isso que escrevi o Além do Like. A primeira edição nasceu em 2021, e agora ele acaba de ganhar uma versão atualizada pela Editora Senac! A nova publicação traz pesquisas quentes, entrevistas e temas que refletem os desafios atuais da era digital. A pressão estética muda de rosto, mas não desaparece Apesar das tendências irem e virem, a pressão estética nunca perde a relevância. Ela apenas se reinventa. Quando escrevi a primeira edição, o debate girava em torno de filtros de beleza no Instagram, comparações com o “corpo perfeito” das influenciadoras e dietas milagrosas que circulavam nas redes sociais. No entanto, não mudou muita coisa nesse cenário. Estudos apontam que o uso de filtros digitais tem mexido com a autoestima de adolescentes, que estão cada vez mais inclinadas à ideia de transformar o corpo por meio da cirurgia plástica. Além disso, a comparação da imagem real com a editada continua sendo um terreno fértil …

Michael Pollan é escritor e jornalista, autor de best-sellers sobre alimentação, natureza e a mente humana

O que Michael Pollan me ensina sobre ser escritora

Estive em uma palestra do Michael Pollan na semana passada. Para mim, foi uma grande honra ouvir ao vivo alguém que admiro tanto falando sobre as pesquisas e entrevistas que se transformaram em best-sellers e artigos nos veículos mais respeitados do mundo. A fala foi sobre seu trabalho mais recente com os psicodélicos — tema ao qual ele tem se dedicado nos últimos anos. Mas Pollan ficou mundialmente conhecido por escrever sobre alimentação. Foi pioneiro ao perceber (e traduzir tão bem em palavras) como a nossa sociedade adoece na busca por uma “dieta perfeita”, enquanto se desconecta da comida, seus sabores naturais e tradições. Quando conheci o trabalho de Pollan, há mais de dez anos, eu fiquei intrigada com o quanto de coisa eu ainda precisava aprender. Como jornalista, sempre tive o ímpeto de mergulhar fundo nos assuntos que estou escrevendo, o que me criava um baita problema quando eu trabalhava em redação: era muita pesquisa pra pouco espaço e caracteres.  Por várias vezes, cheguei a pensar se eu não precisava estudar formalmente alguns dos …

Cena da série Vinagre de Maçã, da Netflix, baseada na história real de Belle Gibson, abordando desinformação nas redes sociais e curas milagrosas

Desinformação e curas milagrosas: o alerta da série Vinagre de Maçã, da Netflix

A série Vinagre de Maçã, da Netflix, expõe como as redes sociais se tornam um terreno fértil para a desinformação, especialmente no que se refere a curas milagrosas. Baseada na história real de Belle Gibson, a produção mostra como uma mentira sobre curar um câncer com dietas alternativas se espalhou rapidamente, conquistando seguidores e gerando lucros. E, no meio disso, fica a lição sobre o impacto da desinformação na saúde e a importância de desenvolver senso crítico nesse momento de mundo. Em meados de 2009, Belle afirmou falsamente ter curado um câncer terminal apenas com alimentação e tratamentos alternativos, e usou as redes sociais para conquistar apoiadores e seguidores. Primeiramente, vale pontuar que, nessa época, o Instagram ainda estava engatinhando, então as pessoas rapidamente se solidarizaram e compraram a causa. Daí pro sucesso foi um pulo. Belle lançou um aplicativo de receitas saudáveis, amplamente apoiado pela Apple. Conseguiu um contrato com uma editora renomada para publicação do seu primeiro livro. E começou a fazer muito dinheiro — tudo isso impulsionado pela crença cega no seu …

Pressão estética e superficialidade são marca das redes sociais atualmente

Desinfluencie-se: como escapar da pressão estética e da superficialidade nas redes sociais

Após alguns dias fora para uma viagem profissional, meu marido voltou para casa. Sentados à mesa de jantar, conversamos sobre a semana. Falei do trabalho, das coisas que fiz, dos filmes que assisti e das fofocas mais recentes do Brasil — ele não acompanha muito as redes, então sou eu quem sempre o atualiza sobre os memes e novidades. Durante a conversa, ele me fez uma pergunta inesperada:— Você não acha que está se sentindo muita raiva? A pergunta me pegou de surpresa. De fato, eu havia pronunciado a palavra “raiva” quatro vezes naquela conversa. Mas, ao refletir, percebi que muitos dos incômodos que compartilhei com ele tinham uma origem comum: as redes sociais. O fascínio e a frustração da “vida perfeita” online Não é segredo que as redes sociais podem mexer com nossas emoções. E não é por acaso que escrevi um livro sobre isso. Sempre me impressionou o contraste entre a realidade e a narrativa que se constrói online. E aqui não estou falando só de influencers: conheço uma centena de pessoas “comuns”, …

Mulher abre caixa de produto industrializado

Propaganda, rótulos e redes sociais: quem realmente decide o que você come? 

É provável que você já tenha ouvido por aí que comida industrializada “não presta”, que é “lixo” e que deveria priorizar os alimentos naturais. Essa mensagem tem seu fundo de verdade, mas o fato é que o excesso de informação sobre alimentação muitas vezes mais nos confunde do que nos ajuda. Afinal: você realmente escolhe o que come? Ou a propaganda, os rótulos atraentes e, sobretudo, as redes sociais, têm moldado as suas decisões e hábitos alimentares? A fim de esclarecer algumas das dúvidas mais comuns nesse sentido, conversei com a nutricionista Mariana Ribeiro, nutricionista e analista de pesquisa do Programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec (Instituto de Defesa de Consumidores). Recentemente, o órgão lançou um documentário bastante esclarecedor sobre a publicidade de alimentos e todo o marketing dos produtos ultraprocessados, que muitas vezes influenciam a compra e, consequentemente, a rotina alimentar das pessoas. Vale a pena conferir. A seguir, acompanhe os principais trechos da entrevista, que inclui não só as mensagens enviadas pela mídia quanto as que recebemos por meio dos influencers …

Jamie, protagonista da série Adolescência, da Netflix, chega à delegacia

Adolescência: o que a série da Netflix nos ensina sobre o impacto das redes sociais na adolescência

Assim que a série Adolescência, da Netflix, foi lançada, alcançou o topo das paradas em todo o mundo. Não é à toa: com qualidade cinematográfica impecável, atuações marcantes e planos-sequência de tirar o fôlego, ela levanta questões fundamentais sobre o universo adolescente e a influência das redes sociais. E por isso segue dando o que falar.  É provável que você tenha chegado até aqui porque já viu a série, ou está buscando mais informações para ver se vale a pena. Então aqui vai um breve resumo, sem spoilers. Jamie é um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola. Ao contrário de filmes e séries que trazem desfechos previsíveis, nada ali faz muito sentido.  Em primeiro lugar, o protagonista é um menino aparentemente tranquilo, que tira boas notas e que não dá trabalho para os pais. O ambiente familiar parece bastante comum, com a tradicional família de pai provedor e mãe dona-de-casa. Inesperadamente, policiais invadem aquela suposta paz com uma abordagem bastante truculenta, o que indica que a acusação é séria. A …

Luzes de Natal em tom abstrato, remetendo às festas de fim de ano e um ambiente acolhedor.

Gordofobia nas festas de fim de ano: saiba como combatê-la

Fim de ano é época de celebrações, mas também de desconforto para quem enfrenta os impactos da gordofobia. Frases como “Você vai comer tudo isso?” ou “Nossa, você emagreceu, está tão bonita!” parecem inofensivas, mas reforçam julgamentos que afetam tanto pessoas gordas quanto aquelas que vivem com medo de engordar. Com o intuito de incentivar um fim de ano mais acolhedor para todos, conversei com Néliane Catarina Simioni, jornalista, pesquisadora e criadora do podcast “Isso não é sobre corpo”.  Além de explorar frases comuns que devemos evitar, ela traz reflexões e dicas práticas para criar um ambiente mais empático neste Natal. Afinal, celebrar deve ser sobre alegria e conexão! Confira a seguir. Pra que falar sobre peso? DB: Por que os comentários sobre peso ou aparência física são tão frequentes em encontros familiares? Quando eu li essa pergunta, eu me lembrei de um enunciado relacionado ao Freud, que diz algo como “família é um caldeirão de loucuras”. A gente é levado a construir relações do tipo “meu” pai, a “minha” mãe, a “minha” filha, “minha” …