Quando assisti ao trailer de Invejosa, da Netflix, tive certeza de que iria gostar. A série parte de um drama comum a muitas mulheres: chegar aos 40 sem ter cumprido o “roteiro” que a sociedade insiste em impor – casar e ter filhos (em pleno 2025!).
A produção argentina é protagonizada por Vicky (Griselda Siciliani), que acaba de levar um “pé na bunda” após ficar casada por dez anos e ser trocada por uma novinha (ora, ora, tá aí outro enredo comum na vida real).
Enquanto todas as amigas avançam no tal checklist da vida adulta, Vicky segue com uma trajetória afetiva caótica e cheia de tropeços.
Apesar de transitar pelo universo da comédia romântica, gênero que raramente me conquista, Invejosa me surpreendeu pela criatividade e por desbancar alguns estereótipos ligados a nós, mulheres.
Como escrevi um livro sobre pressão estética e comportamento feminino, acabo assistindo muitas obras “trabalhando”. E Invejosa virou um verdadeiro objeto de estudo; ainda que eu tenha dado boas gargalhadas ao longo das três temporadas.
Arrisco dizer que foi uma das séries mais legais que assisti nos últimos tempos.
Aqui vão sete motivos para você correr pro sofá se esses temas te interessam.

1. O tema “inveja” é abordado de forma leve
Está meio claro que uma série chamada Invejosa aborda o tema “inveja” na maior parte do tempo. Em primeiro lugar, acho corajoso colocar um sentimento tão humano à prova: todo mundo sente inveja, em menor ou maior grau, mas pouco se fala sobre isso.
Vicky assume que é invejosa, e, ao reconhecer isso, ela busca aprender a lidar com esse sentimento para que não machuque as pessoas ao seu redor. Bem melhor do que colocar o sentimento debaixo do tapete, não é verdade?
2. Competição feminina para além dos clichês
Outro tema que ronda o dia a dia de Vicky é a famigerada “competição feminina”, tão explorada por Hollywood e pela mídia, de um modo geral. Só que a criadora e roteirista da série, Carolina Aguirre, não se rendeu às fórmulas prontas.
Existe, sim, a famigerada “disputa por macho”, mas se você prestar bastante atenção perceberá que por trás desse desejo de vencer no jogo da vida está uma necessidade da personagem de se reencontrar com a sua verdadeira essência.
Afinal, o que ela quer mesmo da vida? Na primeira temporada, não está muito claro, mas com terapia e apoio familiar e das amigas, ela vai descobrindo. E é algo muito bonito de ver.

3. Amizade feminina na base do sincerão
Outro detalhe notável são os enredos em torno das amizades femininas de Vicky, ao começar pelo lindo vínculo que ela tem com a irmã, Carolina (Pilar Gamboa).
Invejosa trata o tema com maturidade, enquanto a maioria das produções romantizam as amizades a ponto de se tornarem inverossímeis.
Já vi (ou desisti) de séries que caem em lugares-comuns e resumem a amizade entre mulheres a um eterno vai e vem de looks, restaurantes, bares, festas badaladas e conversas superficiais sobre…macho. Nestes casos, termino me perguntando onde é que as personagens arrumam tempo e dinheiro pra fazer tantas coisas?
Em Invejosa, não é assim: as amigas estão disponíveis mas têm vidas próprias (como na vida real!). Além disso, o grupo é sólido a ponto de ter certa crueza e sinceridade nas falas: não tem aquela coisinha boba de amizade adolescente que é só diversão, competição e futilidade. Enfim, mais um ponto pra série.
4. Série chama atenção por grandes atuações
Gosto muito de todo o elenco, mas Vicky realmente rouba a cena. Ela é hiperdramática, mas ao mesmo tempo muito engraçada. E é gostoso sentir certa identificação com uma personagem tão complexa e cheia de defeitos.

Outro ponto alto é Pilar Gamboa. Ela é uma atriz espetacular e tem um papel muito importante pro desenrolar do enredo da Vicky e da trama como um todo.
E a terapeuta…bem, a terapeuta é um show à parte que vou deixar pro final. 🧡
5. Invejosa questiona os estereótipos femininos
Não dá pra deixar de mencionar que, embora o sonho de Vicky seja o clichê mais antigo do mundo – casar e ter filhos – é justamente este o ponto que é questionado o tempo todo ao longo das três temporadas.
E não é colocando juízo de valor em quem decide casar e ter filhos; ou tirando o mérito de quem escolhe o contrário. Mas é justamente incitando reflexões a respeito dos papéis que são esperados das mulheres. A maternidade, por exemplo, é abordada sem romantização, e por isso acho até que vale um tópico à parte.
6. Série fala também de maternidade real
O mito da maternidade perfeita vem sendo colocado em xeque nos últimos anos, graças a mulheres que tiveram a coragem de falar que nem tudo são flores nessa jornada. Hoje em dia é possível ver livros, podcasts e perfis nas redes sociais inteiramente dedicados a este tema.
No audiovisual a pauta também avançou, mas a maioria das obras que ousam falar do tema geralmente tocam mais no cansaço físico do que no psicológico. E acho que esse é o diferencial de Invejosa neste quesito.
O texto aborda o desejo de ser mãe com delicadeza e profundidade, envolvendo mais de uma personagem. E também fica evidente o cuidado de não ceder à dicotomia rasa que é: o oposto da mulher que sonha em ser mãe é uma workaholic maluca ou a girl boss, que passa por cima de qualquer desejo pelo trabalho.
Resumindo: pra mim, uma produção que se propõe a provocar reflexão em temas tão cabeludos tem a minha total admiração.
7. Terapia é o pano de fundo da série Invejosa
Deixei essa pro final porque esse é, sem sombra de dúvida, o maior acerto da série. E também um dos meus temas preferidos da vida: o processo de análise.
Todo o enredo é (lindamente) costurado pelas interações de Vicky com sua terapeuta, Fernanda (Lorena Vega). Na verdade, as provocações da terapeuta servem como um pano de fundo para entender o enorme processo de autoconhecimento que ela atravessa ao longo das três temporadas.

O fato de Vicky ser obcecada com os seus relacionamentos, e super insegura com relação aos homens, a princípio pode soar massante. Mas a partir destes diálogos, destrincham-se os conflitos.
Esse é o papel que um bom terapeuta tem na vida de uma pessoa, e a série consegue demonstrar isso com maestria.
Com o desenrolar dos episódios, você vê que a temática vai muito além do medo de não casar ou de perder a batalha pro tal do “relógio biológico” que nos impuseram.
Conclusão
Terminei a terceira temporada tão satisfeita que não gostaria nem que tivesse uma quarta. Mas agora já espero os próximos episódios; e rumores indicam que já foram até gravados.
Invejosa é uma série que me fez feliz, e espero ver mais produções tão empenhadas em desafiar as normas tradicionais de feminilidade que estão tão enraizadas no nosso inconsciente.
Além do Like e além das telas
Se você chegou agora por aqui, deixa eu me apresentar: sou uma escritora, palestrante e pesquisadora independente que explora os impactos da estética, da mídia e das redes sociais no comportamento humano, com foco em imagem corporal, saúde mental e cultura digital.
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