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Meninos também sofrem pressão estética nas redes sociais, mostra nova pesquisa

adolescente olhando o celular, representando a pressão estética nas redes sociais entre meninos

Afinal, pressão estética é coisa de menina?

Assim que comecei a escrever o meu livro, tive uma certeza: meu público-alvo seria feminino. Estudando a história dos padrões de beleza, era visível que sempre fomos as mais cobradas em termos de aparência e, por consequência, o gênero mais afetado em relação à imagem corporal.

No entanto, recentemente estive no Brasil e tive a oportunidade de dar algumas palestras para grupos grandes de adolescentes. A princípio, fiquei apreensiva: será que eles se interessariam pelos temas do meu livro? Estariam dispostos a repensar o uso das redes sociais?

A resposta foi surpreendente: sim, estavam interessados — e, ao contrário do que eu imaginava, os meninos se mostraram super engajados, fazendo perguntas inteligentes e demonstrando curiosidade sobre como as telas impactam a autoestima.

É fato, e os números confirmam: a pressão estética também é uma pauta masculina, e as redes sociais têm papel direto nisso.

Meninos, redes sociais e a pressão pela aparência

Para minha surpresa, o que vi na prática foi confirmado por uma pesquisa recém-lançada pela Common Sense Media. O relatório traz dados impactantes sobre o comportamento digital dos meninos.

No último mês de julho, o órgão ouviu mais de 1 mil adolescentes americanos entre 11 e 17 anos. Ficou evidente que a presença digital faz parte da vida da maioria: 94% usam redes sociais ou jogam online todos os dias, e mais da metade relata que essas plataformas lhes trazem uma sensação de pertencimento.

Ainda assim, o mesmo espaço que acolhe também expõe: 70% dizem presenciar bullying ou assédio, e mais da metade tem contato com linguagem racista, homofóbica ou misógina.

Quando o assunto é imagem corporal e autoestima, os meninos também já estão encarando a pressão estética que, por muito tempo, foi quase que exclusivamente voltada às meninas. Os dados confirmam essa tendência, com 91% dizendo que têm contato com mensagens sobre imagem corporal online, e 75% são expostos a conteúdos que associam masculinidade à força e à busca por um corpo musculoso.

Além disso, quase um em cada quatro sente que as redes o fazem querer mudar a própria aparência.

É urgente entender como os algoritmos alimentam esses ideais e o que podemos fazer para reduzir seu impacto.

O impacto dos algoritmos e influenciadores na autoimagem

Não faz sentido demonizar as redes sociais, ainda mais com a popularização da inteligência artificial, que torna a presença digital praticamente inevitável. Os algoritmos não são monstros, mas têm um papel enorme no nosso comportamento online.

A pesquisa mostrou que o conteúdo que chega aos meninos nem sempre é buscado de forma intencional. A maioria (68%) afirma que materiais sobre masculinidade começou a aparecer em seus feeds sem que tivessem procurado por eles.

E nesse cenário, o papel dos influenciadores merece atenção. Eles assumiram funções de guias e confidentes, com 60% dos meninos dizendo se inspirar neles e mais da metade afirmando seguir seus conselhos. Esse é um ponto crucial para refletirmos sobre influência digital e educação midiática.

Avanços na proteção digital e regulamentação das redes

Mas nem tudo está perdido: em meio a tantas incertezas, há avanços na regulamentação das redes sociais.

No Brasil, o caso mais recente do influenciador digital Felca ganhou repercussão. Em um vídeo no Youtube, ele denunciou a adultização de crianças nas redes sociais (ou seja, a exposição precoce de menores em papéis e conteúdos próprios de adultos, impulsionada por algoritmos que priorizam engajamento).

O vídeo viralizou de forma massiva, e novas propostas legislativas entraram em tramitação na Câmara dos Deputados, exigindo maior regulação das plataformas digitais. Assim nasceu a Lei Felca, que propõe regulamentar a presença de crianças nas redes sociais, limitando a exposição e a monetização de conteúdo infantil para proteger o bem-estar e a privacidade dos menores.

O que podemos tirar desse caso é que os influenciadores não estão apenas refletindo a vida online — eles acabam liderando, de um jeito bom ou ruim, a forma como os jovens pensam sobre corpo, aparência e bem-estar.

Educação midiática: reflexão, senso crítico e saúde mental

Os dados mostram que o desafio vai além de combater os padrões estéticos: trata-se de promover a autonomia, o senso crítico e o bem-estar emocional. Aprender a questionar conteúdos e compreender a dinâmica das redes é essencial para jovens (e também para adultos!).

Essa reflexão também permeia o Além do Like e as minhas palestras: entender o impacto digital nos ajuda a construir um mundo online mais humano. Assim, podemos também passar a nos enxergar com mais gentileza fora das telas.

Falar sobre imagem corporal é, afinal, falar sobre o mundo que estamos construindo nas redes e o que queremos ver refletido fora delas.

Capa do livro Além do Like, escrito por Danielle Barg, com fundo laranja e título em letras garrafais
O Além do Like agora é da Editora Senac e também está disponível em versão digital!

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