Estive em uma palestra do Michael Pollan na semana passada. Para mim, foi uma grande honra ouvir ao vivo alguém que admiro tanto falando sobre as pesquisas e entrevistas que se transformaram em best-sellers e artigos nos veículos mais respeitados do mundo.
A fala foi sobre seu trabalho mais recente com os psicodélicos — tema ao qual ele tem se dedicado nos últimos anos. Mas Pollan ficou mundialmente conhecido por escrever sobre alimentação. Foi pioneiro ao perceber (e traduzir tão bem em palavras) como a nossa sociedade adoece na busca por uma “dieta perfeita”, enquanto se desconecta da comida, seus sabores naturais e tradições.
Quando conheci o trabalho de Pollan, há mais de dez anos, eu fiquei intrigada com o quanto de coisa eu ainda precisava aprender. Como jornalista, sempre tive o ímpeto de mergulhar fundo nos assuntos que estou escrevendo, o que me criava um baita problema quando eu trabalhava em redação: era muita pesquisa pra pouco espaço e caracteres.
Por várias vezes, cheguei a pensar se eu não precisava estudar formalmente alguns dos assuntos que eu estava escrevendo. Como comportamento alimentar é um dos meus temas favoritos, flertei com as faculdades de Nutrição e Psicologia, e fiz vários cursos nessas áreas, inclusive.
Acabei me encontrando como escritora: finalmente eu poderia escrever com mais profundidade sobre os temas que estudo. E Michael Pollan me mostra que, no fundo, o aprendizado formal não é a coisa mais importante: o importante é não parar de estudar.
Não escreva se você sabe as respostas
Uma fala dele, em especial, me marcou.
Pollan contou que, ao começar a investigar o potencial terapêutico dos psicodélicos, o tema ainda era cercado de estigmas. Ele próprio estava cético — mas decidiu investigar. A pesquisa acabou se tornando um marco em sua trajetória, e o livro How to Change Your Mind (2018) virou uma referência no assunto.
Ainda assim, ele comentou que, se soubesse na época tudo o que sabe hoje, teria sido mais cauteloso em alguns trechos. Teria deixado ainda mais claro que os psicodélicos não são uma cura mágica, e que exigem respeito e cuidado.
Ele não usou exatamente essas palavras, mas a mensagem que ficou pra mim foi clara: ele não se coloca no lugar de autoridade. E isso, num mundo tão inundado de ego, é um sinal raro de grandeza.
Saí do teatro com dois livros autografados (!!!) e mais inspirada ainda a cumprir minha missão: estudar, traduzir e compartilhar os temas que considero importantes para a transformação social.
No site do escritor, tem um vídeo curto dele falando sobre o quanto ele é movido por dúvidas, e não por certezas. “Don’t write if you know the answer” (Não escreva se você sabe as respostas), diz. Para ele, a jornada da descoberta é a parte mais prazerosa do trabalho, e melhor ainda é poder compartilhar essa jornada com os seus leitores.
Com a expansão da inteligência artificial, profissionais como Pollan me parecem ainda mais valiosos. O que ele ofereceu àquele auditório lotado — atenção, escuta, presença — foge completamente da lógica dos algoritmos.
Amém!
Para saber mais
Se você se interessa por alimentação, mas sente que não tem uma boa relação com a comida, recomendo ter na cabeceira o livro Regras da Comida, do Michael Pollan.
É um livro direto, com frases curtas que valem ser relidas de tempos em tempos pra lembrar que saber o que comer não precisa (ou não deveria) ser tão difícil assim.
E, claro, se você gosta de comportamento, alimentação, cultura das dietas e tudo o que isso tem a ver com a nossa conturbada relação com o espelho, não deixe de ler o meu livro. Ele está à venda nos sites:
Ele também está à venda nos seguintes sites:
E também nas seguintes lojas físicas:
- São Paulo
Livraria Martins Fontes
Av. Paulista, 509 – Bela Vista
- Maringá
Livrarias Curitiba – Maringá Park Shopping
Av. São Paulo, 1099 - Curitiba
Livraria Telaranha
R. Ébano Pereira, 269 – Centro
Ou, ainda, me mandar DM via Instagram que faço o envio pelo Correio.
Leia mulheres! 🔥