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Foco, força e fé: este é mesmo o segredo do emagrecimento?

Foco, força e fé. É impressionante como estas três palavrinhas podem deixar qualquer pessoa para cima ou para baixo, dependendo do estado de espírito.

Explico. No mundo fitness, elas geralmente vêm acompanhadas de uma foto de alguém sarado, fazendo alguma atividade física alegremente ou comendo um prato saudável com o mesmo entusiasmo com o que mandaria um hambúrguer com fritas para dentro.

Se você está naquela vibe: “urú, dessa vez eu vou emagrecer”, pode tomar este conjunto de palavras como motivação. Mas se acaba de vir de um final de semana de exageros, provavelmente vai se sentir o pior ser humano do mundo: como eu posso estar acima do peso e, ainda assim, não ter força, foco e fé?

Esta reflexão surgiu em um evento muito bacana do qual tive o prazer de participar no último sábado (15), o II Simpósio de Nutrição Comportamental, realizado em parceria como Senac.

Foi um dia intenso de aprendizado, com profissionais que estudam há tempos o que eu – que nem sou nutricionista, sou apenas curiosa – acredito.

A nutrição comportamental mostra que mente e corpo precisam estar em sintonia para se chegar ao tão sonhado “peso ideal”, que por sua vez  tem muito pouco a ver com as saradíssimas do Instagram, e muito mais com saúde, paciência, persistência, paz de espírito, aceitação, autoestima, respeito aos próprios instintos…vai bem além do #foco #força #fé.

Seguindo essa lógica, as dietas restritivas não fazem nenhum sentido: pautadas pela privação, acabam indo meio que na contramão do que o corpo pede.  Gostei muito de ouvir que a maior parte das palestrantes é contra este tipo de dieta que faz as pessoas passarem fome e, sobretudo, ficarem mal humoradas, estressadas e ainda mais compulsivas por comida.

Essa é apenas uma linha de trabalho – não estou criticando quem precisa ou acredita na restrição absoluta. Mas reuni aqui alguns dos principais aprendizados que tirei desse dia, simplesmente porque vão ao encontro do que eu procuro praticar no meu dia a dia de marmiteira. Podem servir como uma forma de tirar o peso e a culpa que nos acompanham nos dias de hoje quando o assunto é comida.

1. Nutricionismo = terrorismo nutricional

Muitas das nutricionistas que palestraram no evento criticaram o terrorismo que se faz hoje em dia em torno da comida: não pode isso, não pode aquilo, se for comer brigadeiro, que seja de whey protein! “Comer não pode ser um problema! Vamos comer de maneira mais intuitiva!”, indica Marle Alvarenga, nutricionista e idealizadora do grupo Nutrição Comportamental. Temos que tentar diminuir a obsessão pela quantidade de calorias e nos permitir os pequenos prazeres. Com moderação, a vida fica mais gostosa.

2. Nem toda dor é fome

A nutricionista Denise Giácomo chamou a atenção para os outros fatores comportamentais que, geralmente, “diagnosticamos” com fome. E isso começa quando ainda somos bebês: chorou, a mãe geralmente dá leite como uma das primeiras soluções. “As funções simbólicas da comida são tão importantes quanto as funções nutricionais”, observa a especialista.

Já parou para se perguntar se sua “fome” não tem a ver com desejo de amor, com algum descontentamento, medo ou ansiedade? Vale o exercício.

3. Mais calorias, desde as cavernas

Não adianta fugir, é biológico. Conforme mostra a teoria evolutiva, os seres humanos tendem a preferir os alimentos mais calóricos, que trazem energia, explica a nutricionista Maria Luiza Petty. Mas tudo que é menos calórico é ruim? Não! Para tornar os alimentos saudáveis mais saborosos, a dica é aguçar os sentidos.

Capriche no visual do prato, invente combinações de texturas. Por exemplo: salada de alface pura pode ser sem graça, mas que tal misturar alguma fruta seca, um queijo magro, castanhas ou o seu legume preferido, para dar mais alegria à coisa toda? Agrada aos olhos e ao paladar.

4. Certinho só de segunda a sexta

Sabe aquele hábito muito comum, de andar na linha de segunda a sexta, e, no fim de semana, passar mal de tanto comer? Pois é, a nutricionista Fernanda Psiciolaro lembra que isso não é algo muito saudável. “Como o seu corpo sabe que é sábado?”, questiona. E faz algum sentido se privar do seu chocolate no meio da semana, e, no sábado, comer duas vezes mais?

Eu sou adepta de comer o que o corpo pede, mas com parcimônia: assim a vontade não acumula e, consequentemente, não há espaço para compulsão.

Outra coisa interessante dita pela especialista é que “planejamento e reeducação alimentar é diferente de dieta”, ou seja: programe-se. Reeduque-se. Você não precisa estar necessariamente em uma dieta restritiva para comer certo, basta ter um pouco de organização e ter sempre ao alcance das mãos alimentos mais saudáveis para a hora da fome.

Faça as pazes com o seu corpo e com a comida, assim, você não precisará entrar nunca em uma dieta restritiva.

5. Comer com a intuição. Oi?

É isso mesmo que você leu! O “comer intuitivo” é um outro conceito que tem tudo a ver com o que falei aí acima. É ouvir o corpo, retomar a conexão com nossas vontades naturais, sem seguir uma listinha de regras o dia inteiro.

Conversei com a americana Evelyn Tribole, nutricionista e autora do livro Intuitive Eating, que me falou um pouco sobre esta teoria e me deu dicas de como fazer isso no dia a dia. “Se você está de dieta, não pode ser intuitivo”, disparou, acrescentando que as dietas restritivas tendem a levar ao ganho de peso e de gordura, além de aumentarem a compulsão.

Fique de olho também ao seu nível de satisfação: se comer devagar e prestar atenção na comida, provavelmente vai comer menos. “Como a intuição está muito ligada ao seu corpo, é realmente muito importante comer sem distrações, sem telefone, sem TV, especialmente quando se está em família”, diz a especialista.

Ela indica, para quem é muito conectado ou não tem tempo, tentar comer dessa forma, mais tranquila, pelo menos em uma das refeições do dia a princípio. Pergunte-se: será que já estou satisfeito? Parece meio surreal pedir que as pessoas reflitam no mundo tão corrido que vivemos hoje, mas lembre-se que todos nascem com essa habilidade.

Os bebês param de mamar quando se sentem satisfeitos. Ao passo que vamos crescendo, vamos perdendo essa conexão com o corpo, mas Evelyn garante que é possível recuperar. “É como aprender a tocar violão. Você pode ler a respeito, você pode entender o violão, mas para tocá-lo você precisa praticar.” Então, ela indica: exercite sua intuição! A vida é muito curta para se viver de dieta.

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